Qual o interesse actual dos algoritmos de avaliação da espessura macular?

Cristina Seabra, MD

Médica Oftalmologista, CUF, SAMS, Cruz Vermelha.

O OCT macular é importante na precocidade do diagnóstico e na progressão de doentes com glaucoma
porque a região macular tem características especiais:

- Nos 5 mm / 16˚ centrais localizam-se mais de 50% dos corpos celulares das células ganglionares da
retina (GCL ganglionar cell layer), em cerca de 6 camadas de espessura,1

- Os corpos celulares da GCL conjuntamente com os seus axónios da camada de fibras nervosas (NFL
nerve fiber layer) representam cerca de 30% da espessura total da retina,2

- A avaliação por OCT do Complexo GCC: GCL + NFL + IPL (camada plexiforme interna) já é actualmente
possível na maioria dos dispositivos Spectral Domain (SD).

O “Ganglion Cell Complex” (GCC) mede a espessura das 3 camadas mais internas da retina que são preferencialmente afectadas no glaucoma

“Ganglion Cell Complex” (GCC):
Axónios= camada de fibras nervosas NFL
Corpos =camada de céls. ganglionares GCL
Dendritos=camada plexiforme interna IPL
Fig. 1

Os novos SD OCTs conseguem resoluções de 5 µm permitindo detectar a diminuição do complexo GCC e diagnosticar mais precocemente o glaucoma (Fig. 1), com tempos de aquisição mínimos (1 seg.) e notável poder de resolução3.

No entanto, há actualmente cerca duma dezena de fabricantes de SD OCT e cada instrumento segmenta o complexo GCC de forma diferente, razão pela qual não é possível a comparação entre exames realizados em aparelhos diferentes, não permitindo a interpolação dos dados. Assim, não só varia a área dos scans maculares entre os 6mm´2 no Cirrus e os 9mm2 no Nidek, como também a definição de complexo GCC varia entre os fabricantes; enquanto a maioria dos fabricantes considera o GCC definido acima (GCL+IPL+NFL), a Carl Zeiss Meditec usa no Cirrus apenas GCL+IPL e não engloba a NFL. O Topcon dá três mapas diferentes com várias combinações de GCL/IPL/NFL. Utilizando sempre o mesmo OCT, a avaliação da espessura macular total é altamente reprodutível intra- e inter-exames, tendo coeficientes de variabilidade inferior a 1% 4. Na ausência de qualquer outra patologia macular a diminuição da espessura macular total no glaucoma é discriminatória5. Esta medição entre membrana limitante interna e epitélio pigmentado da retina é muito precisa devido às propriedades ópticas de reflectividade destas estruturas6.

As camadas resultantes da segmentação também mostram elevada reprodutibilidade, existindo uma elevada correlação entre NFL, Campos Visuais e espessura macular7,8.

Apresentamos em seguida alguns exemplos de “printouts” de vários SD OCT como o Cirrus (Fig. 2), o
Optovue (Fig. 3 e 4), o Cannon (Fig. 5) e o Spectralis (Fig. 6).

Fig. 2

Fig. 3

Fig. 4

Fig. 5

O SPECTRALIS é o SD OCT da Heidelberg. Usa o APS, Sistema de Posicionamento Anatómico, sendo usados dois marcos anatómicos fixos, a fóvea e o centro da abertura da membrana de Bruch, para posicionar automaticamente os varrimentos OCT. A análise da espessura macular (Fig. 6) faz-se através da avaliação da simetria no eixo fóvea-disco entre as máculas dos dois olhos. Apresenta automaticamente
a espessura total da retina, bem como o “GCC” (por segmentação), em 8 x 8 quadrados de 3º cada, nos 24º centrais, e analisa automaticamente as respectivas assimetrias entre os hemisférios superior e inferior de cada mácula, estando em elaboração uma base normativa9.

Fig. 6

A existência habitual duma simetria fóvea-disco entre os dois olhos dum indivíduo normal não se verifica no doente com glaucoma10,11, sendo assim possível melhorar o diagnóstico, bem como a progressão no mesmo doente (Fig. 7) se não se verificar esta simetria12,13,14.

Fig. 7

O ideal será mesmo integrar num mesmo doente a estrutura e a função, como se dum puzzle se tratasse, e ao compararmos os exames dos campos visuais com os exames SD OCT quer dos discos ópticos, quer das máculas, podemos suspeitar das discrepâncias e reforçar a detecção dos defeitos, corroborando-os12,15.

A limitação destes algoritmos está limitada na patologia macular por outra etiologia que não o glaucoma16.

 

4ª Edição - Março 2018